19º SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUH

 

Navegando nas areias da modernidade: a cidade do Rio Grande - Dos titãs ao superporto.

 

Imagens da decadência: a cidade de Rio Grande sob o olhar da imprensa.

Carlos Alberto de Oliveira (PUC-SP)-Coordenador.

Esta comunicação tem como objetivo apresentar elementos que possibilitem uma leitura crítica da cidade de Rio Grande a partir das “imagens” que são construídas pelo Jornal “Rio Grande”, no início dos anos 60.
Num primeiro contato com o “Rio Grande”, é possível perceber as “imagens da decadência”, a partir da ótica do Jornal: fechamento de importantes indústrias e o conseqüente desemprego, ineficiência do sistema elétrico e constantes interrupções do fornecimento de água. Além disto, eram freqüentes as notícias sobre prostituição e vadiagem.
Graças ao artifício da impessoalidade, o “Rio Grande” apresenta-se ao público leitor como expressão dos altos valores eternos, universais e, conseqüentemente, como apartidário, apolítico e impessoal. Deste modo, nas páginas “Rio Grande” são apresentadas uma série de “imagens da cidade”, que são extrapoladas aos seus leitores.

 

Rio Grande: da natureza imperativa ao espaço concebido.

 

César Augusto Ávila Martins (Universidade do Rio Grande)

O litoral retilíneo é marcado pela combinação da ação dos ventos e da planície costeira arenosa do Rio Grande do Sul impressionaram navegantes e viajantes/comerciantes dos séculos passados, chegando a refletir-se em trabalhos de cientistas sociais de poucas décadas atrás.
A imperiosidade de articular o futuro estado ao Império lusitano e aos mercados em constituição impõem ao estuário do “grande mar de dentro” – a Lagoa dos Patos, obras de engenharia ao porto de Rio Grande. Dos planos originais – metade do século XIX, à conclusão dos molhes da barra (1918), constroem-se duas dimensões de lugar: em primeiro lugar a fragilidade do Estado frente às ações de grandes empresas (veja-se o exemplo, a quebra de contratos) e sua imposição sobre a sociedade local. Em segundo lugar, a produção de um espaço concebido, esquadrinhado e linearilizador da natureza e do modo de vida.

 

Vivendo e improvisando: as estratégias de sobrevivência dos turbulentos.

 

Luciane Canto da Rosa (PUC-SP)

A presente comunicação tem por objetivo perceber as transformações que estão se processando no espaço urbano de Rio Grande (RS) na virada do século, e de forma a parcela mais empobrecida da população vivencia este processo.
Neste momento, a cidade experimenta um impulso de modernidade cuja representação máxima manifesta-se na presença de enormes guindastes importados da França, “Os Titãs”, utilizados na execução das obras de ampliação do único porto marítimo do extremo sul do país, assim como a instalação de um grande número de indústrias.
Tais mudanças serão identificadas através de uma leitura crítica de jornais que circulam no período.

 

Na produção da moradia, a produção da cidade: vilas operárias em Rio Grande.
Paulo Roberto Rodrigues Soares (Universidade do Rio Grande)

A comunicação é parte de uma pesquisa mais ampla que analisa a produção capitalista de moradias em Rio Grande. Um dos primeiros exemplos desta produção, nos anos 40 e 50, é a construção de “Vilas Operárias” por companhias de particulares. As vilas eram conjuntos de casas que serviam para habitação de operários mais qualificados. Não encaramos, entretanto, a construção de vilas como um mero empreendimento capitalista. Inserida num contexto mais amplo, representa diversas facetas da ideologia urbanística que marcou presença nos movimentos de modernização conservadora e nas cidades industriais, na primeira metade do século no Brasil. A substituição das moradias precárias e cortiços (que proliferavam nas cidades que vivenciaram um célere processo de industrialização) por “habitações higiênicas”, visava sobretudo, enquadrar a população operária em valores conservadores. Segundo Benévolo (1987) a construção de casas para operários, na Europa, foi uma das preocupações contra-revolucionários pós-1848. Em França, construíam-se casas para dar um lar digno e ligar os trabalhadores “à propriedade, fonte do amor e da ordem”. Quem eram os empreendedores e qual era o objetivo e quais os desdobramentos da construção de vilas na cidade portuária e industrial de Rio Grande?